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Alê e a vizinhança apertadinha


Aquilo estava acontecendo nas últimas semanas. Às duas horas da manhã, ninguém na vizinhança conseguia dormir com tantos gritos e gemidos, sempre muito altos. E eram tantos e em tantas noites que Alê tinha quase certeza de que a vizinha tinha aquilo como profissão. Alê até sentiu falta daquele vizinho meio fofoqueiro, mas bem quieto. Com a nova moradora, ninguém tinha uma noite de tranquilidade.


Desde que ela apareceu, as noites são recheadas de “uis” e “ahhhhhhs”, “vem”, “delícia”... Às vezes, os gemidos pareciam fingidos, mas sempre estavam lá, presentes. Aquele antigo vizinho era o único que teria coragem de colocar o rosto na janela e fazer alguma piadinha do tipo “me chama pra festa aí, vizinha”. Comentários intrometidos que nenhum outro gostava, mas parecia que estava fazendo falta naquela semana.


Alê não teve muita sorte. Estavam distantes apenas pelo pátio interno do prédio. Os ruídos mais íntimos eram todos reforçados pela pressão do eco naquele espaço apertado entre as paredes dos blocos. As janelas das duas se cruzavam. Várias noites, Alê, sentada no sofá, assistindo séries na netflix, conseguiu ver o movimento noturno daquele apartamento. Alê sempre ficava meio horrorizada com todo aquele movimento. Pensando bem… ela não tinha visto nada… Pensando bem, tudo o que ela tinha visto até então era o movimento das cortinas.


De dia, mal Alê se espreguiçava, seguindo à cozinha para o primeiro gole de café, olhava pela janela e já via as cortinas abertas, a casa limpa e vazia, recebendo os primeiros raios de sol. Quando Alê voltava do trabalho, lá estavam novamente as cortinas fechadas. Apenas meia luz era vista por entre uma ou outra fresta.

Se não havia cuidado com o volume dos gemidos, ao menos com a movimentação a vizinha era bastante discreta. Fora o porteiro, que sempre tinha notícias sobre qualidade e quantidade das visitas ao apartamento dela, ninguém mais tinha conseguido registrar a rotina da casa. A mais próxima era, com certeza, Alê, com as suposições a partir das cortinas e da meia luz.


Certa noite, Alê chegou mais cedo do trabalho. Parece que o metrô havia dado uma pane mais cedo naquele dia e grande parte dos frequentadores assíduos preferiu não esperar e voltar de ônibus. Não se sabe se foi exatamente isso, mas o fato é que a estação estava mais vazia do que de costume e Alê conseguiu entrar de primeira nos vagões normalmente lotados. Não foi tanta antecedência, mas aqueles quinze minutos possibilitaram que ela finalmente visse algum momento real na casa da vizinha.


Limitada pela sombra, viu apenas parte do corpo de um homem. Não viu o rosto, apenas os braços bronzeados com uma tatuagem de dragão chinês. Chegou a exprimir alguma cara de nojo e reprovação. Aos poucos, no entanto, percebeu que a expressão mudou. “Bem clichê mas sexy”, pensou na hora. Percebeu a vantagem de ter uma vizinha tão... profissional. Ficou de alguma forma mobilizada pela cena.


Foi à geladeira, abriu uma garrafa de vinho um pouco mais cara que havia prometido tomar somente quando recebesse a confirmação de aprovação para a vaga de gerente no seu trabalho. Sentou no sofá e assistiu a mais um episódio de alguma série que acompanhava. Desta vez sem muita atenção.


Pensava em tudo o que possivelmente acontecia naquela janela a poucos metros da sua. Quase já não olhava para a TV, de tanto que virava o rosto para as cortinas. Baixou o volume o máximo que pode para poder ouvir os gemidos que evitou durante as últimas semanas. “Vem!”, “isso!”, “assim”… Por dois segundos, Alê acompanhou o vento que brincava com as cortinas e viu de relance dois corpos nus na cama. Ela por cima dele, quase sentada. A cabeça levemente inlcinada para trás.


Desligou a TV. Levantou-se, apagou a luz da sala, sentou novamente no sofá, completamente virada para a janela da vizinha. Os gemidos naquela noite brincavam com a imaginação. Tudo se ouvia de onde estivesse na casa de Alê. O vento era também um grande aliado. Abriu as cortinas algumas vezes mais, sorrateiro.

Alê já estava inclinada na base da janela, com o queixo sobre os braços cruzados e completamente molhada. Costumava ser um pouco rigorosa com privacidade, mas aqueles relances na janela brincaram com sua imaginação. Quis se masturbar, mas não sabia se aquilo era coisa que boas meninas deviam fazer. Preferiu apenas fechar os olhos e se deixar ser conduzida pelos gemidos.

Pensou naqueles braços levantando aos poucos seu vestido. Ele procuraria a calcinha, puxaria devagar. Pararia no joelho. Voltaria com a mão para suas coxas. Deslizaria um pouco até que o dedo encontrasse o clitóris. A outra mão estaria firme segurando sua bunda e talvez deslizasse para o meio.


De repente, o barulho da cortina da casa vigiada sendo movimentada nos trilhos. Abriu os olhos e se deparou com a vizinha na janela da frente. Por sorte a penumbra seria suficiente para escondê-la. Aproveitou para olhar de maneira mais dedicada para aquele rosto, que via pela primeira vez. Era bonita mas não viu graça. Pensou que teria mais chance com o visitante daquela tarde.

Inclinou-se ainda mais nos braços. Parece que havia algo mais naquela moça. Viu os olhos seguros e brilhosos, como quem só vive para ser feliz. Cabelos castanhos ondulados, pouco abaixo dos ombros. Bem cuidados, mas completamente despenteados. Seios sinuosos por baixo de um roupão de seda. Alê inclinou a cabeça esperando ver mais daquele corpo ainda suado do sexo. Comparou novamente. Pensou que não eram seios grandes, que talvez os seus fossem maiores.


A luz acendeu no apartamento de outro vizinho e entregou Alê na escuridão. Alê gelou, afastou da janela. Pensou que talvez fosse educado fazer algum gesto, mas não conseguiu pensar em nada para aquela situação em que nada precisava ser dito.


Num relance, a vizinha cobriu o corpo com mais cuidado. Aos poucos, no entanto, pareceu reconhecer os olhos que a observavam. Olhou para Alê com calma. Mordeu levemente o lábio inferior. Sorriu. Pôs a mão no ombro e deixou o roupão cair suavemente pelo braço. Ficou de costas. Deixou a seda cair por completo enquanto se afastou da janela. Naquele ângulo, Alê teve certeza: seus seios eram maiores.


Foi para a cama, se imaginou a morder o biquinho daqueles peitos que cabiam numa mão. Não podia evitar. Colocou a mão por dentro da calcinha e se masturbou até dormir.



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